A incontinência urinária de esforço (IUE) tem uma alta incidência em atletas mulheres, inclusive em atletas jovens e nulíparas (sem gravidezes e partos anteriores). Pouca atenção tem sido dada a outras disfunções do pavimento pélvico em atletas, como a disfunção sexual e a dor pélvica nesta população.
Todos os desportos que provoquem um aumento importante da pressão intra-abdominal, seja por saltos, cargas excessivas ou mudanças de direção, como o basquetebol, ginastas, voleibol, fitness, apresentam uma maior incidência de incontinência urinária (IU) quando comparados com atletas que praticam desportos de baixo impacto como ciclismo, golfe etc. O mesmo se aplica em atividades de endurance, como a corrida de longa distância.
O aumento da pressão intra-abdominal durante a prática desportiva e a fadiga muscular dos músculos do pavimento pélvico, apresentam-se como os principais fatores para uma maior predisposição para as disfunções do pavimento pélvico em atletas. Os músculos do pavimento pélvico ajustam continuamente sua função em resposta a variações de pressão, devendo existir uma pré contração dos mesmos nas situações de aumento súbito da pressão intra-abdominal. A falta, o atraso ou uma pré – ativação não eficiente ao esforço súbito dos músculos do pavimento pélvico podem levar, a condições como a IUE.
Outros fatores como os Distúrbios hormonais, distúrbios alimentares ou dietas extremamente restritas e/ou distúrbios menstruais, parecem também estar relacionados com a IU nas atletas.
Em alguns estudos foram referidos que as atletas assumem estratégias para evitar a perda urinária durante a prática desportiva, como o uso de pensos, micção preventiva e restrição na ingestão de líquidos.
A IU demostra um impacto negativo na qualidade de vida, no desempenho desportivo das atletas mulheres, podendo mesmo levar a atleta ao abandono da prática desportiva. Desta forma as disfunções do pavimento pélvico em atletas podem ter um impacto negativo significativo na vida da mulher, afetando tanto a saúde geral quanto a psicológica, social e o bem-estar das atletas. O problema é pouco relatado pelas atletas, talvez por constrangimento. Por os motivos referenciados, diz respeito a todos os profissionais implicados no acompanhamento de atletas: treinadores, médicos, fisioterapeutas etc…, o papel importante na sinalização e deteção dos sintomas de disfunções do pavimento pélvico nas suas atletas, assim como, o encaminhamento para um profissional especialista na aérea da reabilitação do pavimento pélvico, Fisioterapia Pélvica, para a avaliação, educação, prevenção e tratamento nas disfunções do pavimento pélvico nas atletas.
O papel preventivo é imprescindível e a avaliação clínica continua e a educação dos músculos do pavimento pélvico e da competência abdominal em atletas é fundamental para a prevenção ou tratamento das disfunções do pavimento pélvico.
Autora: Dra. Raquel Jacinto, Fisioterapeuta especialista em saúde materno infantil e pelviperineologia
Bibliografia:
- Almeida MBA, Barra AA, Figueiredo EM, Velloso FSB, Silva AL, Monteiro MVC, Rodrigues AM. Disfunções de assoalho pélvico em atletas. FEMINA. Agosto 2011. vol 39. nº8 (396 – 402).
- Araujo MP, Carvalho CG, Girão MJ, Manito AC, Negra LG, Parmigiano TR, L, Sartori MG, WoL. Avaliação do assoalho pélvico de atletas: existe relação com a incontinência urinária?. RevBras Med Esporte – Vol. 21, No 6 – Nov/Dez, 2015
- Araujo MP, Oliveira E, Zucchi EM, Trevisani VM, Girão MJ, Sartori MG. Relação entre incontinência urinária em mulheres atletas corredoras de longa distância e distúrbio alimentar. Rev. Assoc. Med. Bras. vol.54 no.2 São Paulo Mar./Apr. 2008.