Síndrome da Banda Iliotibial e a corrida

A Síndrome da Banda Iliotibial ou por vezes conhecida também como síndrome de atrito da banda iliotibial é uma lesão por sobre-uso que ocorre com muita frequência em atletas, sendo mais comum em corredores, ciclistas e atualmente também muito observada em praticantes de crossfit.

No entanto, é na corrida que esta lesão mais surge, sendo ainda mais frequente em corredores de longa distância (estrada ou montanha). Mais á frente iremos explicar porque a SABI é mais comum até em atletas de montanha que de estrada.

Então, mas afinal o que é a Síndrome da Banda Iliotibial?

Antes de tudo é necessário perceber o que é a banda iliotibial e qual a sua função na biomecânica dos membros inferiores, mais concretamente do joelho.

A banda iliotibial é uma faixa de tecido conjuntivo que se prolonga desde a região da “anca” até se inserir na face ântero-lateral da tíbia. Esta banda tem várias conexões de tecido com a musculatura lateral da anca e da face ântero-lateral e posterior da coxa, estando por isso sob influência direta de alterações de atividade que ocorram nessa mesma musculatura.

A sua principal função é de estabilidade lateral do joelho durante o movimento de flexão-extensão e nos movimentos de rotação interna do mesmo. Através da atividade do músculo tensor da fáscia lata que exerce um maior controlo sob a mesma, a banda iliotibial durante os movimentos de flexão e extensão e também no movimento de rotação interna, passa de uma posição anterior ao eixo articular do joelho (para ser mais fácil, consideramos, anterior ao fémur) para uma posição posterior. Neste movimento “para a frente e para trás” e derivado da sua proximidade ao epicôndilo femural externo (proeminência lateral do fémur) quando há uma maior tensão nesta banda ou é sobre solicitada no seu papel estabilizador, ocorre um atrito excessivo nesta região, provocando por isso um processo inflamatório e consequentemente dor e incapacidade.

Quais os sintomas provocados pela Síndrome da Banda Iliotibial?

Como mencionado acima um dos sintomas mais frequentes e de alerta para os atletas quando estamos perante uma SABI é a dor na face lateral externa do joelho que por vezes pode progredir também quer por todo a face lateral da coxa e até mesmo face ântero-lateral da tíbia.

Por norma, a dor apresenta-se pior durante a prática da atividade desportiva, podendo surgir apenas após poucos kms tornando-se gradualmente incapacitante, podendo também surgir no dia a dia em atividades como subir e descer escadas.

Em casos em que a banda se encontra mais tensa pode ser reportado pelos corredores uma sensação de estalido no joelho, como se fosse um ressalto na face lateral externa.

Porque é que é bastante frequente nos corredores e como podemos diminuir o risco de lesão?

A síndrome da banda iliotibial é uma patologia multifatorial, tendo por isso de ser analisado em cada caso toda a situação do corredor, sendo fundamental avaliar os possíveis fatores intrínsecos e extrínsecos do atleta.

Como intrínseco ao atleta podemos considerar fatores como:

  • Debilidade da musculatura da anca, joelho e tornozelo
  • Alterações de alinhamento do pé (excesso de pronação/supinação), joelho (valgo/varo) e da anca (rotação interna excessiva)
  • Dismetria de membros (uma perna mais curta que a outra)
  • Desequilíbrios musculares
  • Alterações na técnica de corrida (p.e. excesso de carga sobre o calcâneo “calcanhar”)

Como fatores extrínsecos temos fatores que vão desde a metodologia de treino, ao piso e ao material utilizado, dos quais se destacam os seguintes:

  • Uso de sapatilhas não adequadas para o tipo de apoio plantar e para o tipo de terreno
  • Uso de calçado desgastado que promove mais instabilidade articular nos diferentes segmentos
  • Correr em pista sempre no mesmo sentido, promovendo uma constante sobrecarga sobre um dos lados derivado da inclinação da pista
  • Praticantes de trail Running derivado da sobrecarga muscular, do impacto e do incremento da instabilidade durante as descidas.
  • Cargas de treino desajustadas promovendo o sobre treino.

Perante todos estes fatores é essencial que o atleta seja acompanhado por profissionais especializados que o aconselhem e auxiliem durante o seu percurso, sendo que muitos destes fatores podem ser minimizados através de:

  • Análise da técnica de corrida e dos alinhamentos musculo-articulares por parte de um Fisioterapeuta em conjunto com Podologia.
  • Adaptação correta do calçado através de uma consulta de calçado com Podologista que o direcione para o calçado mais adequado para a sua composição física e tipo de corrida
  • Análise da postura, da mobilidade articular e sinergias musculares por parte de um Fisioterapeuta e Osteopata.
  • Adequação das cargas de treino e reforço muscular das regiões da anca, joelho e tornozelo com o apoio de um profissional de exercício físico.

E o tratamento?

Nos casos da síndrome da banda iliotibial o tratamento passa muito pelas estratégias que devem ser utilizadas como forma de prevenção da mesma combinadas com alguma redução da carga da atividade desportiva, efetuando um repouso seletivo e controlando o processo inflamatório na fase inicial. Em muitos casos o uso de terapia manual (massagem na região da banda e as suas áreas envolventes), libertação miofascial com rolo ou pistola percussiva, trabalho de mobilidade muscular e articular (alongamentos) são outras das técnicas utilizadas para eliminar o problema. Contudo ter sempre presente que mais importante que tratar é diminuir o risco de aparecimento e/ou perceber porque apareceu e corrigir esses fatores.

Se é corredor e gosta sobretudo de corridas longas de estrada e ou montanha, ou se começou a correr há pouco tempo e está a desenvolver dor na face lateral do joelho, escute o seu corpo, procure os nossos especialistas na Osteo Performance 360º, corrija o que for necessário, e evite assim que mais tarde tenha de parar a sua evolução em busca de novas metas.

 

Autor: Dr. Bruno Ferreira, Osteopata/ Fisioterapeuta, especialista em desporto e traumatologia

 

Bibiliografia:

Fairclough J, Hayashi K, Toumi H, et al. Is iliotibial band syndrome really a friction syndrome? J Sci Med Sport. 2007 Apr;10(2):74-8.

Baker RL, Fredericson M. Iliotibial band syndrome in runners: biomechanical implications and exercise interventions. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2016 Feb;27(1):53-77.

Orchard JW, Fricker PA, Abud AT, et al. Biome­chanics of iliotibial band friction syndrome in runners. Am J Sports Med. 1996 May-Jun;24(3):375-9